Só se
percebe que há coisas que nunca mudam.
Como o
cheiro de uma camisola de quem já não está. O que ficou lá, há anos e anos, o
que não foi, o que não é, e que o trautear de uma canção trás. Um espicaçar da
melancolia, a nostalgia segue-lhe o rasto, e a dor a não se acanhar.
Pouco ligo à
morte de cantores, personalidades, celebridades, actores, políticos, santos ou
pecadores – desde que com eles não tenha ligação pessoal e afectiva, claro. Não
que eles eventualmente não mereçam reconhecimento, não é isso que está em
causa, mas porque a vida é feita de pessoas que morrem e que nos deixam, e o
espanto perante a morte sempre me espantou, sobretudo quando são ‘mortes
anunciadas’. Morreu A, morreu B? Que pena, o mundo perde mais uma pessoa que
duma forma ou outra se destacou, mas a vida continua; a minha certamente sempre
continuou. Leonard Cohen morreu? Que pena! Que voz bonita que tinha, músicas
melancólicas, gostava de muitas, conhecia-as bem e sabia algumas letras de cor,
embora tanta melancolia seguida acabasse por me cansar. E a vida continua, a minha
continuou.
Mas um dia
acordei a trautear e cantar algumas das suas canções, as que mais gostava, as
que melhor conhecia... Só que esta semana não. A morte de Leonard Cohen não me
deu jeito nenhum.
He sank beneath your wisdom like
a stone.
Leonard Cohen, Suzanne.
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