25/01/2017

Da Mudança

Não sei quem é Donald Trump, nem adivinho o que seja a sigla TSU. Hoje não me faz falta saber, não me interessa.

Vejo mais um episódio da segunda temporada de Shetland e invejo o vento na cara das personagens, oiço a música, deixo-me levar pela fotografia, pelo que as personagens não dizem, e pergunto-me porque é que gosto dessas séries policiais britânicas. Acho que tem a ver com o tempo. 

Abro mais um caixote, este já com alguns sinais de humidade, que estava lá ao fundo no canto da garagem. É o caixote. Coisas de outras décadas. Outras preocupações, outras coisas na cabeça. Muitas fotografias, separadas em grupos um pouco à toa, umas embrulhadas em folhas de papel, outras em envelopes, está lá o álbum nunca acabado, e estão muitas, mas muitas, cartas divididas em vários sacos. Cartas que chegavam pela mão do carteiro vindas de países dantes tão longínquos e com selos que não conhecíamos. Dessas que que eram respondidas uns dias ou semanas depois, dependia do ritmo que estabelecêramos. O tempo era diferente. Abro um envelope, tiro uma carta, mas é difícil lê-la. Não percebo pois quando as recebia não era. Abro outra com outra caligrafia, e mais outra carta, outra caligrafia e percebo não conseguir lê-las também. Várias cartas, várias caligrafias e a mesma dificuldade em decifrar caracteres que os meus olhos já não estão habituados a ver. 

Vejo mais um episódio de Shetland e para além do vento na cara, invejo as escarpas abruptas sobre o mar.

2 comments:

jj.amarante said...

Será difícil de decifrar por a tinta ter migrado para o outro lado da folha ao fim de muitos anos introduzindo ruído óptico? Ou foi porque se esqueceu que existiam letras difíceis? As dos médicos eram lendariamente difíceis de entender e sempre que penso nisso irrito-me com a complacência que existia em relação a esse desleixo.

jcd said...

Que coisas lemos hoje manuscritas? Vem tudo feito no computador.